Estória...

À falta de melhor vou imaginar que tenho uma turma muito disciplinada, interessada, participativa e empenhada. Então era assim..

Era uma turma fantástica, nenhum aluno exalava odores desagradáveis (entravam sempre perfumados com agradáveis odores primaveris e nada de cheiro a chulé) e todos se vestiam de forma "normal" (nada de rabo à mostra e chapéus malucos - tipo meia de vidro enfiada na cabeça). Após o toque de entrada, entravam de forma ordeira na sala de aula (nem me lembrava das costumeiras entradas ao melhor estilo do gado a entrar no curral), e quais anjos deslizantes sentavam-se de forma silenciosa (arrastar cadeiras... era uma expressão que estes alunos desconheciam por completo). Nem uma flatulência inconveniente estes alunos se davam ao luxo de soltar. Davam-me os bons dias e por vezes até me entregavam num papel uma frase bonita, a dizer o quanto eu era importante para eles.

Era fácil ser professor... A cada expressão minha, os alunos respondiam com um sorriso. A cada questão, com uma resposta (mas sempre antecedida de um "braço no ar" e com um olhar que quase podia adivinhar querer dizer "escolhe-me"). E tinham iniciativa, questionavam-me acerca de coisas que iam para lá da "matéria" (e que não futebol ou "Morangos com Açucar"). Conseguia discutir com eles, quase todos os temas da actualidade. Percebiam todas as piadas camufladas e eram capazes de as construir eles próprios. De uma inteligência e esperteza soberbas. Havia burburinho (é próprio da idade), mas tinha a certeza que era sobre a matéria...

No final da aula, aquando do toque de saída, observava neles uma expressão de sofrimento, não por quererem sair, mas sim porque queriam aprender mais. No caminho para casa, só sonhava com o dia em que retornaria à companhia de tão excelentes criaturas. Não eram autómatos ou "delinquentes", mas seres dotados de grande curiosidade, educação e respeito pelo professor.


Ninguém nos pode impedir de sonhar... pois não?!